Filme Juízo - uma retratação da realidade de jovens infratores

Primeiramente, gostaria de deixar aqui registrado que eu não gostei da nova template, mas fui voto vencido (Gustavo e Bruno X EU) e que espero, em breve, ver uma apetitosa (hmm) salada estampando o topo do blog!! :-)

Depois do desabafo já posso prosseguir o meu post...
Em um sábado meu professor convidou a sala para ir ao cinema às nove horas da manhã assistir a um filme (que seria surpresa) e, após, fazer um debate. Isto é algo que sempre fazemos, mas antes íamos à faculdade mesmo e na parte da tarde. Mas acordar sábado de manhã depois de dormir na sexta de madrugada?! É, mas no final eu fui! Foi difícil, mas eu consegui vencer o sono e FUI! E que bom ter ido!

Assistimos ao ótimo Juízo, filme brasileiro da diretora Maria Augusta Ramos (vejam só a ficha da moça). O filme trata da questão de jovens infratores no Brasil, mas como a lei não permite que seus rostos sejam mostrados a diretora contou com a presença de jovens que vivem em risco social, ou seja, representam papéis ao quais estão acostumados a observar todos os dias. E fazem tudo de forma perfeita, como se infratores fossem. Já os demais personagens são reais.

É como se a câmera fosse deixada na sala de julgamento, e, as pessoas ali presentes não a percebessem. Por isso vemos uma juíza que realiza a audiência de forma mecanizada, lê os autos do processo, pergunta se tudo aquilo é verdade, dá um sermão no réu, o manda para o Instituto Padre Severino e depois chama o próximo. À defesa não é dada quase nenhuma oportunidade. Irrita o fato de ver o defensor público tentar se pronunciar e ser sempre cortado. Diferente do Ministério Público que é ouvido quando se manifesta.

Chama atenção quando esta mesma câmera é levada à “casa” de um dos jovens e nos revela as condições em que muitas pessoas sobrevivem. Em meio a porcos, cheia de crianças, muito pequena, enfim, um local precário e insalubre. Depois podemos adentrar na instituição Padre Severino. Esta não se difere da casa citada. Um local horrível, mal ventilado, o chão sempre molhado, um amontoado de jovens que ali foram depositados, sem nenhuma atividade produtiva e construtiva. Seria engraçado, se não fosse trágico, é que a lei fala em internação em estabelecimento educacional (vide Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, art.112, VI). Assim, aquilo é um estabelecimento educacional.


Depois do filme fomos ao debate. Na mesa tivemos a participação de um jovem interno de uma instituição aqui da minha cidade. Ele parecia perdido e meio envergonhado. Não conseguiu entender uma pergunta que meu professor fizera (por mais clara que ela fosse). Mas disse que algo que para mim foi esclarecedor de todo aquele momento que passamos ali. Disse que não era sociedade. Definiu nestas palavras o sentimento de exclusão a que são todos os dias submetidos. Em uma entrevista que vi com Mv Bill ele disse que os jovens negros, brancos, ricos, pobres, todos eles querem as mesmas coisas, têm os mesmos desejos e o fato de uns poderem e eles não, de uns terem e eles não, os faz invisíveis, as pessoas passam por eles como por aquele cara do filme Ghost.

No fim, eu me senti envergonhada. Envergonhada por ficar com muita raiva quando não tenho dinheiro para ir a uma festa, ou para fazer uma viagem ou uma cirurgia estética. Recomendo a todos assistirem ao Juízo, para que também se envergonhem e para que isso seja um estímulo a uma mudança de postura em relação a esse sério problema no país.

2 comentários:

Gustavo Bruno disse...

é amore, quando vemos pessoas em situações tão difíceis, também me sinto envergonhado...

aqui em casa, onde há os carroceiros que fazem frete para a madeireira já dão uma diferença entre os que vivem no meu prédio e com eles. temos estudos e mais segurança financeira. e eu vejo muitos garotos ali, os quais aparentam apenas trabalhar, já que os vejo o dia todo, e parece, esse ser o futuro deles. me sinto mal por não dar uma contribuição maior pra mudar toda a nossa situação!

Bruno Paiva disse...

Nossa, muito bem colocado!

Inclusive na escolha da imagem, onde vemos todas aquelas pernas e mãos para trás... nela fica difícil imaginar que cada um ali é um humano, com sua individualidade, pensamentos próprios, e tudo mais que um humano tem direito, tudo isso graças à padronização que é feita e às precárias condições de vida de cada um dos infratores que vai parar em uma instituição destas.

É extremamente triste o fato de que ali há tantas mentes que poderiam estar sendo moldadas (não de forma alienadora, claro) para que em um futuro não tão distante elas pudessem estar rendendo frutos, e ao invés disso elas estão passando uma vida infernal, assim como passaram antes de ir parar ali.

Volto a me perguntar: porque tudo tem que ser tão mal pensado?